segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Cartas a Trépia - 01


[Inicio aqui uma série de textos totalmente ficcionais, qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.]


(Hoje é domingo 22/1, 22h40min, estou na rodoviária de Porto Alegre, me dirigindo a Caxias. Tenho uma Heineken long neck e um maço de cigarros L&M azul como companheiros.)

Começo agora uma série de mensagens que espero, além de manter contato, sirvam de válvula de escape para as coisas que penso e sinto.
Tudo bem?
Acredito que o fato de mesmo distante tu ainda se importar comigo; mostra que posso compartilhar minhas maluquices contigo.
Sem medo de isso ser usado contra mim, algum dia.
Estou certo? Tomara.
Pretendo te escrever cada vez que voltar pra “casa” (seja ela onde for) que é onde consigo viver de verdade, O que é bom. E pensar, isso já não é tão bom.
Enfim:

Acho que posso começar te contando que sábado 21/1, fui ensaiar com músicos de verdade (Bleaahhh!). Foi engraçadamente estranho. Tudo começou na semana passada, quando o C. postou no face que precisava de vocal de Led Zeppelin. Para sábado.

Eu só de arreganho respondi o chamado com um singelo: “Onde?”. Ele mordeu a isca e me mandou uma resposta desesperada dizendo a hora, o local e a razão. Pensei por um minuto em sacanear meu amigo.
Mas mesmo tendo saído na sexta, tomado todas e acordado de ressaca. Algo me fez comparecer ao tal ensaio. (Meu ônibus acaba de encostar agora.)

Subi a mesma rua para chegar ao mesmo estúdio do mesmo jeito que tantas vezes fiz na minha adolescência. Chegando lá encontro um C. tão feliz e saltitante como era na minha adolescência, só que agora com um desconfortável ar de superioridade. Pergunta o que tenho feito e não se importa nem um pouco com a resposta. Mas mesmo assim deu pra sentir o espanto dele ao me ver tão introspectivo. Com certeza bem diferente do Rebel maluco que ele devia lembrar. (Pausa para entrar no ônibus.)

O ensaio foi tecnicamente impecável e isso é o que foi estranho. Tanto o C. quanto o guitarrista são professores de música. O baixista eles conheceram pelo Twitter e era a primeira vez que o viam pessoalmente. Esse também todo metido a virtuose. O único não-músico naquela sala era eu. Mas também era o único roqueiro de verdade ali, já que as esposas de todos ou estavam ali ou estavam esperando em casa. Só eu estava de ressaca.

Ressaca essa que me remetem a sexta 20/1.
Depois de uma jantar uma bela e enorme lasanha, meu amigo T. me convida pra beber. Disse que tinha parado de beber a algumas semanas por causa de um remédio que ele estava tomando.
Decidimos ir para o Jack.
Queria ver gente conhecida. Quanto mais, melhor. E em cachoeirinha o Jack é o lugar mais certo para isso.

Chegamos lá estufados de tanta lasanha e começamos a cumprimentar os amigos. O T. bem mais do que eu, lógico.
Eis que vejo o P. e sinto algo ruim. Sabia que ele não estava bem. Chego perto para conversar e ele está em outra dimensão. Tinha tomado LSD e não fazia e nem dizia coisa com coisa.
Foi triste ver que não poderia fazer nada pelo meu Brother. Não dessa vez.
Tudo que pude fazer foi deixá-lo ali e recomendar a gurizada pra ficar de olho nele e me chamar caso necessário.

Entramos e como o objetivo era beber. Tomamos de cara uma dose de tequila cada um. Tinha combinado de encontrar lá a Lea e a Haiti. Que nesse momento são fisicamente o que tu é na minha cabeça. Sinto que tanto posso passar a noite toda contando piada para elas, como também posso pedir colo e chorar feito um bebê.

Apesar de estar precisando desesperadamente dessa última parte ainda sinto vergonha em pedir...

Sinto um instinto fortíssimo de proteção pelas pessoas que gosto. E com elas, assim como é contigo, é assim. Mas isso também é um problema porque com minha primeira namorada e primeira esposa, começou assim.
Acho que talvez isso faça eu me afastar das mulheres que gosto. O medo de misturar as coisas dentro da minha cabeça e estragar algo belo. Dói demais a distância e o silêncio que isso causa. Mas doeria ainda mais magoar pessoas que desejo tudo de melhor.

Nossa... Nunca achei que conseguiria expressar isso tudo com palavras. Muito obrigado.
Mesmo que tu não leia tudo, saiba que foi e será muito importante esse canal para mim.
Quando se cansar pode jogar tudo na lixeira. Não ficarei bravo, é só não me contar.

Ahhh e muito importante! Só porque vou te contar todas essas coisas,não significa que tens obrigação de fazer o mesmo. Viu?


Muito obrigado mais uma vez.
Por tudo.

Rebel.